— Não posso continuar a ver-te — digo-te, entre um suspiro e um abanão de ombros. — Há qualquer coisa, entre nós, que não se controla. E que tem os dias contados.
— Os dias contados? Como uma bomba detonada? — perguntas-me tu, com um sorriso brincalhão, tentando suavizar as palavras.
— Sim, como uma bomba detonada. Onde o calor do corpo parece ferver todo apenas num sítio: no coração. Aqui, bem dentro. Este fogo aflito da paixão.
Ficamos sentados a olhar um para o outro. Encolhes os ombros também. Há qualquer coisa de inesperado nas minhas palavras, mas sabes que tenho toda a razão. Já pensaste nisso trezentas mil vezes, tal como eu. Acordas com vontade de saltar pelo mundo. Deitas-te com vontade que o dia não acabe. Há instantes em que a paixão te cerra a garganta e, por mais que engulas, por mais que tentes dizer, a garganta não funciona. E as palavras não vêm.
Como agora. As palavras não vêm.
— Porque fizeste isso? — pergunto, depois de me arrancares um beijo urgente, às escondidas do mundo.
— Não sei — e fazes silêncio. — Porque quero que esta bomba expluda nas nossas bocas. — Olhas-me nos olhos. — Afinal de contas, não é isso o melhor da paixão, Joana?
- # 159 Nas nossas bocas -
@ apetece(s)-me
- Laura Azevedo -
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